sábado, 29 de outubro de 2011

NÃO TE QUERO MAIS

                                       
             Ao longo da minha vida de mulher moderna e independente, trabalhando fora, estudando e com atividades sociais. Sempre necessitei de ajuda nos trabalhos domésticos.
            E já passaram pela minha casa dezenas de pessoas, algumas desistiram de mim... E outras dispensei. Quanto as que as me abandonaram...Bom, deixa pra lá, acho que nem quero saber o motivo. O que me consola é que não foram a maioria.
            Vou discorrer apenas sobre as que foram dispensadas. Já tive que cortar esse serviço até por contenção de gastos, por incompatibilidade de dia e horário, além de motivos mais específicos como: quebrar muitos objetos, machucar-se excessivamente, montar coleção de souvenirs com meus pertences, fazer tudo mal feito, ser faltosa e uma porção de outros atributos semelhantes.
            Então, fazendo uma lista de tudo isso comecei a olhar a situação por outro ângulo. Todos nós temos dificuldades. Há sempre momentos que, mesmo sem querer, a gente acaba pecando. Se fosse avaliada desta maneira, será que estaria a dezenove anos no mesmo emprego? Acho que não...
            Agora procuro ver o que essa pessoa fez de bom por mim e pela minha família, se percebo uma dificuldade fico imaginando como posso ajudar.
            Dependemos das relações humanas para sobreviver, não importa o quanto abonada ou habilidosa seja uma pessoa, ela vai precisar comprar e vender algo e quem vai estar na outra ponta desta relação é outro semelhante que também tem família, prioridades, sonhos, medos, vícios, talentos...
            Não se pode voltar atrás e modificar o passado, confesso até que não cultivo arrependimentos. Fiz o que era a melhor escolha na maturidade que dispunha naquele momento. Espero ter sido sutil, amável e generosa. Mas hoje, vejo as fraquezas de maneira mais humana e foram todas essas pessoas que me ensinaram isso.
            Sou grata pelos que me rodeiam e possibilitam esse tempo de sentar e escrever, agradeço também pelas toalhas macias, pela cama cheirosa, pelo banheiro organizado...
            E no meu trabalho procuro ser o mais impecável possível, não estou dizendo que sou, apenas que dou o melhor com amor e consideração a todos que contam comigo. E como uma última confissão a pessoa que está na minha casa agora, já faz um bom tempo e não deu sinais de querer ir embora.

sábado, 22 de outubro de 2011

CARTEIRA DE HABILITAÇÃO

                                                   
             Por um milhão de motivos que não valem a pena serem citados, aos 41 anos de idade, ainda não tenho a habilitação. Ou seja, querido marido me leve ali, me busque aqui, me encontre lá... Não tem táxi, o ônibus demora, as sacolas pesadas o filho pequeno (cinco anos), me fizeram tomar coragem de entrar em uma “Escola de Formação de Condutores”.
            Antes mesmo das aulas teóricas, já reprovei no primeiro teste que fiz. O de vista, era cegueta e nem sabia... A notícia é que vou ter que usar óculos. Bom... quem sabe assim consiga ver mais longe e resolver outras questões que me incomodam. Vou ficar com mais cara de intelectual, vai dar mais charme a minha profissão, professora. Na verdade, nada disso interessa, vou ter de usar e pronto.
            No primeiro dia de aula meu nome não estava na lista de alunos, fiquei lá e assisti a aula. Porém terei que repor. São vários dias de teoria obrigatória e até necessárias que precisam ser cumpridas a risca e isso é apenas o começo.
            Então, como me é peculiar, comecei a pensar. Quando você decide realmente que quer alguma coisa, que arregaça as mangas pra conseguir e na medida que vai avançando é primordial o surgimento de obstáculos.
            Adoro rodinhas com minhas amigas e em uma destas estava eu contando as aventuras e desventuras deste processo quando uma delas me disse: “Qual é o seu objetivo?” É ser bem tratada? É fazer check-up de saúde? Fazer novas amizades? Ampliar conhecimentos? Ou ter a habilitação?
            Levando isso para outras situações, como é fácil perder o foco! Pelo menos para mim. Sempre que me envolvo em uma atividade acontece um emaranhado de situações que me desviam, me desgastam e levo o triplo do tempo pra chegar lá.
            Tão mais simples é se deixar levar, me inscrevo, faço o que tem que ser feito e saio de lá habilitada. E os detalhes? Esses são apenas “detalhes” e se não der força e voz a eles. Os obstáculos não são os acontecimentos em si, mas a interpretação que faço deles.

domingo, 16 de outubro de 2011

DAR BOAS VINDAS A VIDA

                                      
             Ontem fui a um evento popularmente conhecido como “chá de bebê”. Umas das principais características deste, é que só é frequentado por mulheres com as suas crianças. E este não fugiu a regra. Haviam mulheres de várias idades, algumas já mães, outras na expectativa de ser e umas ainda que nem cogitavam o assunto.
            Mas todas elas ali unidas, dando risada, comendo, brincando... Reunidas com o objetivo de celebrar a vida que pulsava na enorme barriga da futura mãe, que era o centro das atenções. Cada uma traz um presente e junto com ele o desejo de felicidade, saúde, paz, prosperidade...
            Em cada roupinha, cada sapatinho, cada pacote de fraldas uma história pra contar de como foi consigo mesma, alguma coisa que leu ou ouviu em algum lugar.
            Essas mesmas mulheres ainda vão se reunir muitas vezes, para celebrar o nascimento, os aniversários, fazer passeios, pedir conselhos, partilhar experiências.
            Envolvidas nestas relações elas crescem, aprender a lidar com as dificuldades, se empatizam com seus pares que passam por situações similares e principalmente ensinam aquelas crianças que as rodeiam a serem seres sociais, a se comprometer com ideais de um grupo, a ter a sua individualidade preservada e respeitada, porque cada uma é única. Sempre tem alguma comida especial que uma delas gosta e é a única que sabe preparar, uma que não pode ser chamada pra “pagar mico”, porque não gosta de se expor, a que monta a decoração porque leva jeito com isso, a que carrega, que serve, que anima...
            Demorei muito para perceber a dinâmica destes eventos e confesso que boa parte da minha vida nem gostava de ir. Mas hoje além de querer participar, já consigo enxergar com uma nova ótica. É simplesmente uma maneira maravilhosa de celebrar a vida!!!

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

FESTA DO PIJAMA

     
             É com muita satisfação e alegria que volto a rotina após um dia de folga, como é bom feriado na quarta, na terça eu tinha o desejo que fosse lei mais dois dias de recesso, mas hoje ao acordar pela manhã me sentia de maneira diferente.
            Neste feriado não fiz nada que me fosse chato, obrigatório ou que os outros julgassem necessário. Passei o dia todo de pijama. Meu querido e amado marido ficou indignado e as visitas me olhavam com estranheza.
            Não sei que interpretação é dada ao pijama durante o dia, talvez seja coisa de gente doente, preguiçosa ou infeliz. Pra mim pijama é símbolo de conforto e alegria, é uma celebração a vida.
            Já houve épocas em que fiz isso e o meu prazer incomodou, aquela sensação de culpa horrorosa de estar bem assim largada sem fazer nada e a sensação de tantas coisas deixadas de lado.
            Desta vez não, passei um dia maravilhoso e acordei revigorada.
            Viva a festa do pijama!

sábado, 8 de outubro de 2011

CANSEI DE LUTAR


             Hoje sinto uma necessidade gritante de levantar uma bandeira branca, estou cansada e sem forças para continuar. Não quero ter mais as respostas para tudo, não quero solucionar todos os problemas, não quero ter que conservar o sorriso de que está tudo bem, não quero ficar ouvindo as mesmas lamentações e repetir os mesmos conselhos, não quero interagir, ter sacadas inteligentes, desculpar grossuras, entender e relevar.
            Quero simplesmente me largar e ficar em paz, quero perder a noção do tempo em contemplação, preciso me sentir mais leve. Pelo menos hoje não quero ter nada para resolver ou decidir. Todas essas urgências que me aguardam podem ter uma pausa para descanso.
            Quero tomar muita água, comer quando tiver fome, dormir se tiver sono e fazer voto de silêncio.   

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

DESLOCANDO

                                    
             A sombra desliza silenciosa pela parede mofada do quarto, cortinas cerradas escondem o sol e o grosso vidro da janela não permite a entrada dos sons da primavera. Tudo aqui é desolação, o cheiro não o bom, a luz artificial é fraca. Na mobília o abandono é explicito.
            Neste mesmo lugar já houve tanta cor e alegria. Ninguém que passa pela rua consegue visualizar a casa tamanho o descaso com a vegetação que cresce de maneira exuberante, não há mais jardim nem canteiro e a varanda se misturou de tal forma que fica difícil definir onde começa. Com muito custo achei a porta de entrada e com os olhos ainda desacostumados ao escuro vou tateando a poeira e me guiando neste ambiente tão familiar.
            Lembro nitidamente do dia que fui e de como tudo era diferente, lembro de ter sentido o gosto de liberdade, agora olhando tudo que ficou não consigo me lembrar do que queria me libertar.
            Em pé e sozinha aqui novamente sinto um estranhamento, uma falta de reconhecimento, uma ausência de direção, a sensação de perder o foco, de me confundir, a necessidade de diluir as lembranças, de refazer os planos, de desculpar os enganos e seguir, simplesmente seguir.
            Não posso refazer o passado, mas vou resignificá-lo. Se essa morada não tiver conserto vou derrubar parede por parede e depois construir algo novo que possa abrigar todas as possibilidades que ainda me restam.