domingo, 23 de março de 2014

BAIXO RENDIMENTO



Meu filho está com dificuldade na escola. Na verdade, todos os anos ele tem dificuldade na escola que freqüenta desde os quatro meses de idade. E nunca conseguiu entrar perfeitamente no quadradinho.

            As outras mães ficavam encantadas com as músicas ensinadas que eram cantadas nas rodinhas para as amigas, o meu nem sabia do que se tratava ou inventava suas próprias letras.

            Os cadernos dos amiguinhos perfeitamente organizados e com letra caprichada, o meu não consegue ver sentido nenhum em perder seu tempo repetindo aqueles exercícios que não servem pra nada (de acordo com a opinião dele), muitas vezes ele me parece à parte da sua situação escolar.

            Eu sou professora e uma das minhas frustrações é não conseguir ter despertado nele o gosto pela leitura e pelos estudos de maneira geral. Ele até que gosta da escola, diz que lá é um lugar legal e tem bastante espaço para correr. Quando conversamos sobre o futuro, ele diz que quer ser artista, criar coisas que não existem e que possam ajudar as pessoas, quer desenhar, esculpir, criar cenários e principalmente se divertir.  Enquanto que, a maioria dos amiguinhos querem ser: médicos, advogados, professora e até modelo.

            Nas conversas as professoras, inclusive eu, não dizem que ele é uma criança super alegre, que gosta muito de conversar e brincar, dizem que é hiperativo.

            Chegou-se ao ponto de ele não acreditar mais que fosse capaz de aprender. Após a saída da escola em que mais uma vez ouvi as reclamações da professora e estava passando uma “raspa” nele, desabou em um choro desesperado afirmando que por mais que se esforçasse não conseguia ir bem na escola e provavelmente não teria uma boa profissão e sem dinheiro para se sustentar moraria na rua. Fiquei penalizada e me ofereci para morar com ele na rua ao que me respondeu que não daria certo porque eu iria envelhecer e morrer com o tempo deixando-o sozinho do mesmo jeito.

            Neste ponto tive que dar um basta, definitivamente não estou dando conta da situação. Procurei referencias de um bom psicólogo e está marcada para segunda a primeira consulta.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

CAIM - José Saramago

              
 
             Esse foi o primeiro livro completo de um autor que já fazia algum tempo me chamava à atenção com suas citações, posicionamentos e causas defendidas. Foi como aquela amizade de comprimentos pela manhã, lá de vez em quando acompanhados de uma singela e descompromissada simpatia, mas o respeito por uma pessoa digna de prêmio Nobel.

            Através de Caim, tivemos a nossa primeira conversa íntima e pessoal e ele me meteu medo. Uma linguagem fria e distante, uma descrença no ser humano, uma banalização da vida. Nem estou levando em consideração as questões relacionadas à religião que são chocantes e desnecessárias. Mas se retiradas o livro perde o sentido, fica seco, oco e sem perspectivas.

            Mas o que dá sentido ao livro, dá também, um gosto amargo na boca, parece uma revolta, uma necessidade premente de afrontar, de responder as indignações com um severo: “NÃO TO NEM AÍ!!!!!”.

            Quando se lê o livro, a impressão que fica é de uma pequenez miserável e profunda, é uma falta de esperança. Um abismo negro se abra diante dos olhos e ele continua incansável página após página vomitando seu desprezo pela raça humana e suas crenças religiosas.

            E acaba assim, sem acabamento próprio. A impressão que dá é que cansado de escrever ele simplesmente para e dá as costas, sem nem se importar com as perguntas que surgem. Pra ele a obra está completa e é inquestionável.

domingo, 2 de dezembro de 2012

HELENA DE TROIA

                              

“O que não sabiam era como Heitor se sentava segurando para mim a lã enquanto tecia, e a roca enquanto fiava; como nas longas tarde troianas, na luz avermelhada do sol, ele passeava comigo no jardim deserto, já que as princesas dormiam conservando sua beleza para tempos melhores e a rainha se sentava em outro lugar, em silêncio, a contemplar as mãos.”

Para quem gosta dos mitos gregos é um prato cheio, o livro é recreado de fraquezas humanas, um universo áspero de interesses materiais onde a beleza física se resumia a mercadoria de troca.

Uma bela mulher que conheceu somente uma forma de amor, o amor carnal e em troca só soube amar os homens. Na infância é tratada com indiferença pelos pais e se rivaliza com a irmã, tem irmãos gêmeos que se completam entre si ignorando tudo mais que há em volta.

É como se a história fosse escrita pela própria Helena, sem os horrores da guerra e nem a impressão dos demais personagens. As paisagens são descritas de maneira romântica e seu contato com a natureza demonstra o quanto ela é intensa. De certa forma torna-se comum, uma mulher em busca da felicidade. Por ignorância ou solidão ela procura por si mesma nas relações em que vive, mas acaba sempre sozinha.

Aos doze anos é raptada por Teseu e essa lembrança a persegue como um pesadelo pela vida toda. No seu resgate conhece sua primeira paixão em um dos soldados que junto com seus irmãos lhe trás de volta pra casa.

Passa por grandes períodos de solidão, seu casamento por interesses familiares não lhe preenche e na primeira oportunidade foge abandonando sem o menor remorso a família a até a própria filha. Sou mãe e esse fato me choca, mas não consigo condená-la pelo ato, como pode dar amor à filha a mulher que não foi amada por sua mãe?

E quanto a abandonar tudo sem olhar para trás, quantos de nós já não teve esse desejo? Quantas vezes já tomamos caminhos errados e por medo, vergonha ou orgulho não conseguimos voltar atrás com a coragem de recomeçar.

A presença de espírito de caminhar serenamente no meio aos que te julgam sem nunca tentar te entender. A força para seguir seus impulsos sem se importar com conseqüências vivendo única e exclusivamente o momento.

Certamente não é um livro que compraria, ganhei e acabei lendo mais rápido do que imaginei que faria, Helena de Troia foi uma boa leitura, recomendo.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

CONVERSA COM MACHADO DE ASSIS

                                    
           Nas manhãs dos últimos dias tenho levantado cedo como sempre e depois dos afazeres cotidianos me sento no silêncio da sala para conversar com Machado de Assis através de Dom Casmurro.
          Vou por entre suas linhas visitando outra época, de discursos inflamados e floreios, modos contidos e emoções intensas, ambientado em casas velhas e escuras. Seguindo o personagem Bentinho em seus devaneios de cóleras e ciúmes. Teve uma vida boa e agradável, só que tão centrado em suas mazelas emocionais nem se deu conta.
          Dom Casmurro é exatamente como eu e até como você, passou pela vida entretido entre devaneios. Que ouso dizer com folga que não viveu. Nunca sofreu por necessidades, teve boa saúde, possuía bens, o trabalho não lhe era exigente, foi amado, amou, teve filho, amigos que flutuavam em torno dele cheios de significados que variavam de acordo com suas impressões e sentimentos.
          Não pôde usufruir do amor que teve e fechado em suas fantasias se tornou cascudo, indiferente e sombrio... Quantos de nós nos dias de hoje se deixa levar pela imaginação se enclausurando sem conseguir ver o brilho do sol e da vida?
          Dom Casmurro através de sua miséria me ajudou a valorizar o trabalho que me cobra zelo e dedicação, a família que me sorri amorosa, aos amigos que me dedicam momentos de boa conversa. Despertou-me para os pequenos prazeres proporcionados por confortos banais que nos rodeiam.
          Machado de Assis era um grande conhecedor da alma humana e suas mazelas. Esse livro foi publicado pela primeira vez em 1900, mas o tema é atualíssimo, ele gostava de superlativos. E essa conversa íntima com Machado me fez repensar atitudes e maneiras de ver a vida, quem diria... Machado de Assis ser um potencial autor de auto ajuda, em alguns momentos tive a nítida impressão de ter seu personagem de olhos angustiados ali do meu lado chegando até a responder espontaneamente suas indagações, fascinante e envolvente. Foi uma boa leitura.

domingo, 17 de junho de 2012

A ARTE DA GUERRA


          Leitura complicada e em alguns momentos entediante, são muitos detalhes históricos que prolongam a leitura, porém as dicas para uma liderança eficiente e fiel são boas. Não sei se colocadas em prática funcionam, mas certamente são bem fundamentadas e coerentes.
          “Veja seus homens como seus discípulos e eles o seguirão aos vales mais profundos; zele por eles como se fossem seus filhos queridos e eles ficarão ao seu lado até mesmo na morte.”

domingo, 6 de maio de 2012

O CÉU ESTÁ CAINDO

                                          

             Livro lido, missão cumprida, mas na boca um gosto amargo de decepção, realmente como me alertou a crítica, os livros mais antigos deste autor eram melhores.
            Talvez tenha mudado meu gosto, quem sabe esse tipo de leitura não me atrai mais... Fica difícil concluir o que de fato aconteceu, mas fico triste em ler Sidney Sheldon e não sentir todo aquele suspense que tanto me prendia e encantava.
            A história até que é boa, mas ficam muitas pontas soltas ao longo do caminho, primeiro algumas expressões se repetem em vários personagens diferentes, a heroína parece meio tolinha e infantil, no ápice a coisa desanda e acaba bruscamente.
            Até que me esforcei e cada página pensava, agora vai melhorar... Mas, não teve jeito, começou morno e acabou sem graça.

domingo, 1 de abril de 2012

MINHA HISTÓRIA DE LEITURAS

             O universo das palavras escritas sempre me fascinou, lembro que desde muito pequena e sem saber o que aqueles símbolos significavam ficava um bom tempo a contemplá-los. Passei a primeira infância em um local ermo e com muito contato com a natureza. Pertencia a uma família que trabalhava informalmente, mas era bastante atarefada. Raramente tinha contato com pessoas estranhas e vez ou outra encontrava algumas embalagens que continham os símbolos mágicos.
            Lá de vez em quando, alguém lia alguma coisa pra mim e era tão impressionante que não importava a quantidade de vezes que se lia, o que estava escrito era sempre a mesma coisa, então isso me fez pensar que aqueles risquinhos tão miúdos deveriam ter algum sentido.
            Um tempo depois começaram a aparecer os gibis que a minha irmã mais velha lia. Como era bom poder olhar as imagens e ouvir as histórias, foi nesta época que percebi que meu nome também poderia ser representado por aqueles tais símbolos e assim, não sosseguei até aprender a escrever, ia aqui e ali juntado sons e decifrando palavras até que acabei lendo.
            A escola nunca me foi muito atraente, confesso que gostava mesmo era do lanche. Lá haviam poucos livros e os que tinham só era permitido pegar e escrever com a autorização da professora. Mas mesmo assim eram muito chatos, só gostava deles no primeiro dia quando tinham aquele cheiro maravilhoso de novo, mas não se podia folhar muito, pois havia o risco de sujar ou rasgar.
            Então os livros da minha irmã eram melhores e tinha histórias mais interessantes, ela já estava no final do ensino fundamental e seus livros traziam, crônicas e poesias, enquanto que os meus era: “Papai passa pomada na panela”.
            Mas mudamos para a cidade, era uma região suburbana, e a quantidade de embalagens cresceram e se multiplicaram. Haviam bulas de remédio, receitas nos pacotes de açúcar, nunca gostei de culinária mas era interessante olhar a lista de ingrediente e admirar a foto colorida do quitute.
            Então entrei para a adolescência, e minhas amigas românticas tinham as terríveis “Sabrina, Bianca, Júlia...”, eram medonhas, mas como não havia nada mais interessante... Até que chegou aquela coleção, para gostar de ler. Essa sim, que delícia não conseguia parar até chegar à última página. Fiz amizades mais requintadas e conheci a Agatha Christie e o Sidney Sheldon, e finalmente fui estudar já no ensino médio no centro da cidade e entrei no mundo maravilhoso da biblioteca, com ela veio Milan Kundera, Ernest Hemingway, Jô Soares, Jorge Amado, Arnaldo Jabor e tantos outros. Na verdade o autor nunca me chamou muito atenção, a escolha do livro começava pelo título, seguia para a contracapa e se conseguisse chegar até as orelhas ele tinha me conquistado e já o levava comigo.
            Essa curiosidade de prestar mais atenção ao autor, me veio agora este ano com uns encontros para literatura que estou participando, onde me pediram sugestão de livros. Lembrei vários títulos e me veio um vazio em relação aos autores, me recordo de bem poucos e mesmo assim apenas o nome. Senti tanto constrangimento em ter um contato tão íntimo com alguém, e nem saber seu nome. Porque através do livro tenho acesso ao mundo interior de uma pessoa, tenho ali muitas situações que olho no olho certamente não contaria a ninguém. Leio as histórias que devem ter levado tempo e energia para serem construídas página a página e que me deram tanto prazer. Só que depois de terminar, fechava o livro e lhe virava a costas em busca de outro sem nem me interessar pelo nome do autor.
            Então, estou aqui publicamente me desculpado e prometendo que daqui por diante serei mais gentil e atenta.  Continuarei agradecida por receber tanta atenção e apoio de todos esses autores que com sua dedicação e talento me ajudaram a ser eu mesma, me levaram a descobrir meus gostos e preferência e acima de tudo me fizeram companhia, foram meus conselheiros, me levando a sorrir e chorar, ensinando, envolvendo, dando possibilidades.
             Hoje estou professora e me encontro semanalmente com 15 turmas. Desenvolvo atividades nas áreas de Arte e Literatura que são amplas e complexas, onde não existem notas e a avaliação está relacionada ao nível de compreensão e apreciação dos alunos com relação à arte, bem como ampliação do gosto literário e ações que os levem a realizar leituras fluidas e prazerosas. Posso garantir que não é fácil, mas antes isso do que ter que trabalhar.