
É sexta-feira e a praça de alimentação do shopping está repleta, as pessoas bebem e conversam animadamente, embora não dê para captar detalhadamente o conteúdo de alguma conversa e possível ouvir gargalhadas e palavras soltas.
As formas, cabelos e até os perfumes refletem as tendências da moda, tudo parece tão alegre, as luzes, as cores.
Ana Maria faz uma consulta rápida no seu visual, os sapatos da última coleção, a bolsa de marca, as roupas que ainda não pagou e a maquiagem está tudo perfeito. As unhas, puxa essa cor não é a ideal, por baixo da meia calça a depilação também pede atenção, suspira e se sente um lixo.
Começa a olhar detidamente as mulheres que estão nas outros mesas, parecem tão bem sucedidas, dentes brilhantes com sorriso impecável. Lembra que também precisa ir ao dentista, começa a reparar que tem bolsas mais caras que a sua, os calçados é bom nem olhar. É invadida por uma sensação de inadequação. Em um instante toda aquela alegria começa a oprimir e sufocar.
Chega de olhar as mulheres! Vamos olhar os homens, os tipos físicos variam, assim como das mulheres. As vestimentas e os cortes de cabelo se assemelham, conversam sobre os mesmo assuntos, dão sempre as mesmas cantadas e na maioria das vezes nem cantam, ficam ali com um sorriso no rosto e o copo na mão. Na verdade eles até que são bonitos, pele bem cuidada, cabelos hidratados, unhas feitas. Grandes ambições, celular top de linha e vão para casa de ônibus.
Neste momento Ana Maria tem vontade de gritar, de jogar para o alto os sapatos que lhe machucam os pés, a roupa que comprimem seu abdômen, queria poder rir de verdade, rir de dentro pra fora. Comer um montão de chocolate e não ouvir todo aquele burburinho. Não ter que rir das piadas que nem entende, mas todo mundo está rindo. Não ter que ir a filmes que nem gosta, mas que tudo mundo está assistindo.
Em um impulso se levanta e pega a bolsa pronta para ir embora, quando é surpreendida por mãos que tocam seus ombros, seus colegas de trabalho vão se chegando, trocam cumprimentos e vão ocupando todos os lugares da mesa. O assunto já está estabelecido, cada um solta um comentário, vão chegando as bebidas.
Anestesiada, Ana Maria se esquece das divagações anteriores, ouve, comenta e ri, enturmada parece tão feliz, não se sente sozinha e tudo parece fazer sentido novamente.
Passa por eles uma mulher obesa, suas roupas descombinam cores, os adornos mais parecem alegorias, todos olham aquele ser estranho, tão sem noção. Umas das pessoas balança a cabeça em sinal de desaprovação e todos repetem o mesmo gesto. Ana Maria se sente integrada, aceita, amada, protegida e fazendo parte do grupo e assim segue a vida.