sábado, 27 de agosto de 2011

DELÍRIO URBANO

            
             É sexta-feira e a praça de alimentação do shopping está repleta, as pessoas bebem e conversam animadamente, embora não dê para captar detalhadamente o conteúdo de alguma conversa e possível ouvir gargalhadas e palavras soltas.
            As formas, cabelos e até os perfumes refletem as tendências da moda, tudo parece tão alegre, as luzes, as cores.
            Ana Maria faz uma consulta rápida no seu visual, os sapatos da última coleção, a bolsa de marca, as roupas que ainda não pagou e a maquiagem está tudo perfeito. As unhas, puxa essa cor não é a ideal, por baixo da meia calça a depilação também pede atenção, suspira e se sente um lixo.
            Começa a olhar detidamente as mulheres que estão nas outros mesas, parecem tão bem sucedidas, dentes brilhantes com sorriso impecável. Lembra que também precisa ir ao dentista, começa a reparar que tem bolsas mais caras que a sua, os calçados é bom nem olhar. É invadida por uma sensação de inadequação. Em um instante toda aquela alegria começa a oprimir e sufocar.
            Chega de olhar as mulheres! Vamos olhar os homens, os tipos físicos variam, assim como das mulheres. As vestimentas e os cortes de cabelo se assemelham, conversam sobre os mesmo assuntos, dão sempre as mesmas cantadas e na maioria das vezes nem cantam, ficam ali com um sorriso no rosto e o copo na mão. Na verdade eles até que são bonitos, pele bem cuidada, cabelos hidratados, unhas feitas. Grandes ambições, celular top de linha e vão para casa de ônibus.
            Neste momento Ana Maria tem vontade de gritar, de jogar para o alto os sapatos que lhe machucam os pés, a roupa que comprimem seu abdômen, queria poder rir de verdade, rir de dentro pra fora. Comer um montão de chocolate e não ouvir todo aquele burburinho. Não ter que rir das piadas que nem entende, mas todo mundo está rindo. Não ter que ir a filmes que nem gosta, mas que tudo mundo está assistindo.
            Em um impulso se levanta e pega a bolsa pronta para ir embora, quando é surpreendida por mãos que tocam seus ombros, seus colegas de trabalho vão se chegando, trocam cumprimentos e vão ocupando todos os lugares da mesa. O assunto já está estabelecido, cada um solta um comentário, vão chegando as bebidas.
            Anestesiada, Ana Maria se esquece das divagações anteriores, ouve, comenta e ri, enturmada parece tão feliz, não se sente sozinha e tudo parece fazer sentido novamente.
             Passa por eles uma mulher obesa, suas roupas descombinam cores, os adornos mais parecem alegorias, todos olham aquele ser estranho, tão sem noção. Umas das pessoas balança a cabeça em sinal de desaprovação e todos repetem o mesmo gesto. Ana Maria se sente integrada, aceita, amada, protegida e fazendo parte do grupo e assim segue a vida.   

terça-feira, 23 de agosto de 2011

CAMPONESA

             Pela fresta da janela entra um arzinho gélido, todas as superfícies estão frias e da boca sai aquela fumacinha, além do frio há também a chuva insistente que cai fora torrencialmente e em generosas gotas por algumas partes do cômodo.
            Sobre a mesa a massa de pão inerte que se nega a crescer, as mãos sujas de farinha tentam colocar um cacho teimoso atrás da orelha, no berço uma criança dorme e pelo chão silenciosamente brincam mais duas.
            O velho relógio da parede não funciona mais, pela escuridão que cai dá pra saber que já é tarde. A janta está encaminhada no fogão a lenha, a roupa suja não dá pra lavar por conta da chuva.
            Isabel está em um momento raro, não há nada para fazer. Isso é bom porque ela pode descansar, isso é ruim porque ela começa a pensar. Em uma espreguiçada estica as costas e os braços doloridos e pela cabeça pipocam as lembranças de menina. Lembra dos campos de milho onde corria sem se importar com os leves cortes que as folhas lhe faziam nos braços, dos banhos demorados no rio, da cachorrinha que dormia a seus pés.
            Realmente Isabel nunca esperou nada da vida, ia simplesmente vivendo um dia de cada vez. De repente cresceu, seu coração disparou com um moço bonito que viu na festa da igreja e ele falou com seu pai e lá foi ela embora com ele na carroça junto com a colheita de melancias. Foi um verão tão bonito, tão quente...
            O moço bonito era também amável, lhe trazia mudas de flores e doces quando voltava da cidade, mas falava pouco, quase nada, apenas o necessário.
            Então vieram os filhos, um após o outro. O doutor disse que havia uma maneira de não ter mais, o moço bonito não quis nem ouvir: “filho é coisa de Deus, se ele manda a gente cria!”. Os filhos também eram bonitos, macios e alegres.
            Mas nestes momentos que Isabel parava, parecia se dar conta de um enorme vazio que dentro dela existia. Ela era a esposa do moço bonito, a mãe de três lindas crianças, a filha dedicada que ajudava os pais velhos e doentes, a beata de oração fervorosa na igreja, a dona de casa zelosa, porque tudo que dependia dela estava sempre na mais perfeita ordem, não havia nada fora do lugar.
            Tirando todos esse personagens, quem era Isabel? Nem ela mesmo sabia dizer. Continuava vivendo um dia de cada vez, sem medo do futuro e nem arrependimento pelo passado. Sendo levada como uma folha seca e sem vida pela correnteza.

domingo, 21 de agosto de 2011

VOCÊ ACEITA UM PRESENTE?

            
            Em certos momentos sinto uma grande necessidade de me aquietar para por a vida em ordem. Certas respostas e comportamentos quando nos viciam fazem nossa vida andar em círculos, então essa parada é justamente para ajustar rotas, abrir mão do terreno seguro e cortar fora tudo que não serve mais.
            Sei que é mais cômodo ficar paradinha esperando que a própria vida se faça, porém ao assumir essa postura somos tomados por uma inquietação insuportável e a ação se torna premente e necessária. Cabe aqui também uma avaliação do passado e balanço dos erros e acertos. Eu disse BALANÇO e não recriminação, afinal, como diz a máxima: que atire a primeira pedra quem nunca errou. Além de que, se neste momento começar a se envolver em culpas e lamentações, se perde o melhor da festa que é a satisfação da evolução, de gozar plenamente as nossas conquistas.
            Então. Muita gente vê esse momento como angustiante e pesaroso, mas não. Na verdade cada vez que ajustamos o leme da nossa vida nos damos magicamente um presente e festejamos assim o prazer de estar vivos, de poder alçar voos mais altos, ter através destas escolhas um novo destino e quem sabe a realização plena de nossos sonhos, pois novas escolhem sempre abrem muitas possibilidades.
            A aceitação deste movimento já nos impulsiona para a prosperidade, é claro que não estaremos isentos de medos e dúvidas, toda transformação, grande ou pequena mexe com nossas estruturas e nos causa insegurança, mas nos lembram também que estamos vivos!
            Aja sempre com moderação e segurança, faça a escolha e não pense mais nas outras opções, aprenda com os erros e crie o habito de celebrar todas as conquistas, certamente viver é correr riscos.
            Não passe a vida se escondendo e tendo medo de situações que provavelmente nem chegarão a acontecer. Quando o presente da mudança chegar, não reclame, não questione, não adoeça. Simplesmente aceite.

sábado, 6 de agosto de 2011

PAIS BRILHANTES PROFESSORES FASCINANTES

   CURY, Augusto. Pais brilhantes Professores fascinantes Editora Sextante, Rio de janeiro, RJ 2003. 171 págs.
Um livro gostoso de ler, fácil de entender. Mostra alguns caminhos viáveis para a educação tanto no âmbito familiar como escolar. Porém em alguns momentos o autor demonstra uma fragilidade em convencer o leitor de suas idéias, pinta um mundo simplista e de soluções “a toque de caixa”. Põe sua teoria em educação como a única solução para os problemas familiares e educacionais, bem como para todos os males do mundo. Com certeza é bem intencionado, mas falta um olhar mais amplo para a realidade.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS

                   
                     ZUSAK, Markus. A Menina que Roubava Livros. Editora: Intrínseca, 2007. 478 páginas
Livro que prende o leitor do início ao fim. É uma história muito triste, a personagem central é uma menina e o cenário é a segunda guerra mundial. Ela vive na Alemanha, perde seus pais e é adotada por outra família. Aos poucos vai se conhecendo o drama que envolve todos os personagens em um suspense leve e emocionante. Sem contar que a narradora é a morte. Penso que esse livro tem tudo para virar filme.