
Alguns anos atrás fiz um curso na área de saúde e no qual era obrigatório o estágio, passando por todas as especialidades médicas. Uma das situações mais tristes foi na geriatria.
Durante os horários de visita eu percebia alguns leitos rodeados de afetos, beijos e olhares amorosos. Já outros permaneciam silenciosos, frios e solitários tendo ali apenas o paciente e sua cara amarrada.
Lembro de na época sentir muita pena dos idosos solitários e achava também uma injustiça da família que não conseguia separar alguns momentos do seu dia para estar ali, levando conforto para aquelas almas tão cansadas.
Hoje ao observar um pai buscar uma criança em um parque de brinquedos (destes que tem em Shopping), comecei a entender algumas coisas. O pai estava com um amigo e pela conversa e a lata de cerveja na mão, deu a entender que ele passou a hora que o filho esteve ali, bebendo e relaxando. Calma, que isso não é errado e não tem nada demais em fazer.
Porém, ao chegar no portão nem teve a gentileza de cumprimentar o funcionário que ali estava e até então, cuidando de seu filho. Apenas se encostou na mureta e berrou o nome do moleque.
Ao ver o pai os olhos da criança (aproximadamente 5 anos), brilharam. Ele então começou a chamá-lo para mostrar as mil e uma cambalhotas que havia feito e estava a plenos pulmões chamar a sua atenção, quando os gritos se tornaram inconvenientes o pai olhou de maneira enfadonha para ele dizendo que sabia de tudo aquilo e era para se apressar que já estavam atrasados.
Os ombros da criança caíram visivelmente, seus pequenos olhos se encheram de lágrimas...E o pai nem percebeu, quando o garoto saiu agarrou sua mão e foram embora para longe de meus olhos. Mas meu coração permaneceu mais um tempo com eles.
Dá até para imaginar agora aonde quero chegar. Como que aqueles idosos solitários construíram a sua relação com a família. Será que tiveram tempo pra ouvir uma história longa, cheia de pequenos detalhes que as vezes até nem fazem sentido? Será que tiveram a sensibilidade de se abaixar para ficar a altura daqueles olhos brilhantes e fazer perguntas pertinentes ao assunto que está sendo abordado? Trataram com respeito e amorosidade todas as pessoas enquanto estavam sendo observados pelos pequenos? Marcaram os encontros e despedidas com beijos e abraços afetuosos?
Não basta pagar em dia a mensalidade da escola mais cara, ter o plano de saúde tal que cobre isso e aquilo, comprar as roupas de marca e todos os brinquedos da moda. Como dizia uma antiga propaganda: “Não basta ser pai, tem que participar”.