quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

CAIM - José Saramago

              
 
             Esse foi o primeiro livro completo de um autor que já fazia algum tempo me chamava à atenção com suas citações, posicionamentos e causas defendidas. Foi como aquela amizade de comprimentos pela manhã, lá de vez em quando acompanhados de uma singela e descompromissada simpatia, mas o respeito por uma pessoa digna de prêmio Nobel.

            Através de Caim, tivemos a nossa primeira conversa íntima e pessoal e ele me meteu medo. Uma linguagem fria e distante, uma descrença no ser humano, uma banalização da vida. Nem estou levando em consideração as questões relacionadas à religião que são chocantes e desnecessárias. Mas se retiradas o livro perde o sentido, fica seco, oco e sem perspectivas.

            Mas o que dá sentido ao livro, dá também, um gosto amargo na boca, parece uma revolta, uma necessidade premente de afrontar, de responder as indignações com um severo: “NÃO TO NEM AÍ!!!!!”.

            Quando se lê o livro, a impressão que fica é de uma pequenez miserável e profunda, é uma falta de esperança. Um abismo negro se abra diante dos olhos e ele continua incansável página após página vomitando seu desprezo pela raça humana e suas crenças religiosas.

            E acaba assim, sem acabamento próprio. A impressão que dá é que cansado de escrever ele simplesmente para e dá as costas, sem nem se importar com as perguntas que surgem. Pra ele a obra está completa e é inquestionável.

domingo, 2 de dezembro de 2012

HELENA DE TROIA

                              

“O que não sabiam era como Heitor se sentava segurando para mim a lã enquanto tecia, e a roca enquanto fiava; como nas longas tarde troianas, na luz avermelhada do sol, ele passeava comigo no jardim deserto, já que as princesas dormiam conservando sua beleza para tempos melhores e a rainha se sentava em outro lugar, em silêncio, a contemplar as mãos.”

Para quem gosta dos mitos gregos é um prato cheio, o livro é recreado de fraquezas humanas, um universo áspero de interesses materiais onde a beleza física se resumia a mercadoria de troca.

Uma bela mulher que conheceu somente uma forma de amor, o amor carnal e em troca só soube amar os homens. Na infância é tratada com indiferença pelos pais e se rivaliza com a irmã, tem irmãos gêmeos que se completam entre si ignorando tudo mais que há em volta.

É como se a história fosse escrita pela própria Helena, sem os horrores da guerra e nem a impressão dos demais personagens. As paisagens são descritas de maneira romântica e seu contato com a natureza demonstra o quanto ela é intensa. De certa forma torna-se comum, uma mulher em busca da felicidade. Por ignorância ou solidão ela procura por si mesma nas relações em que vive, mas acaba sempre sozinha.

Aos doze anos é raptada por Teseu e essa lembrança a persegue como um pesadelo pela vida toda. No seu resgate conhece sua primeira paixão em um dos soldados que junto com seus irmãos lhe trás de volta pra casa.

Passa por grandes períodos de solidão, seu casamento por interesses familiares não lhe preenche e na primeira oportunidade foge abandonando sem o menor remorso a família a até a própria filha. Sou mãe e esse fato me choca, mas não consigo condená-la pelo ato, como pode dar amor à filha a mulher que não foi amada por sua mãe?

E quanto a abandonar tudo sem olhar para trás, quantos de nós já não teve esse desejo? Quantas vezes já tomamos caminhos errados e por medo, vergonha ou orgulho não conseguimos voltar atrás com a coragem de recomeçar.

A presença de espírito de caminhar serenamente no meio aos que te julgam sem nunca tentar te entender. A força para seguir seus impulsos sem se importar com conseqüências vivendo única e exclusivamente o momento.

Certamente não é um livro que compraria, ganhei e acabei lendo mais rápido do que imaginei que faria, Helena de Troia foi uma boa leitura, recomendo.