quarta-feira, 15 de agosto de 2012

CONVERSA COM MACHADO DE ASSIS

                                    
           Nas manhãs dos últimos dias tenho levantado cedo como sempre e depois dos afazeres cotidianos me sento no silêncio da sala para conversar com Machado de Assis através de Dom Casmurro.
          Vou por entre suas linhas visitando outra época, de discursos inflamados e floreios, modos contidos e emoções intensas, ambientado em casas velhas e escuras. Seguindo o personagem Bentinho em seus devaneios de cóleras e ciúmes. Teve uma vida boa e agradável, só que tão centrado em suas mazelas emocionais nem se deu conta.
          Dom Casmurro é exatamente como eu e até como você, passou pela vida entretido entre devaneios. Que ouso dizer com folga que não viveu. Nunca sofreu por necessidades, teve boa saúde, possuía bens, o trabalho não lhe era exigente, foi amado, amou, teve filho, amigos que flutuavam em torno dele cheios de significados que variavam de acordo com suas impressões e sentimentos.
          Não pôde usufruir do amor que teve e fechado em suas fantasias se tornou cascudo, indiferente e sombrio... Quantos de nós nos dias de hoje se deixa levar pela imaginação se enclausurando sem conseguir ver o brilho do sol e da vida?
          Dom Casmurro através de sua miséria me ajudou a valorizar o trabalho que me cobra zelo e dedicação, a família que me sorri amorosa, aos amigos que me dedicam momentos de boa conversa. Despertou-me para os pequenos prazeres proporcionados por confortos banais que nos rodeiam.
          Machado de Assis era um grande conhecedor da alma humana e suas mazelas. Esse livro foi publicado pela primeira vez em 1900, mas o tema é atualíssimo, ele gostava de superlativos. E essa conversa íntima com Machado me fez repensar atitudes e maneiras de ver a vida, quem diria... Machado de Assis ser um potencial autor de auto ajuda, em alguns momentos tive a nítida impressão de ter seu personagem de olhos angustiados ali do meu lado chegando até a responder espontaneamente suas indagações, fascinante e envolvente. Foi uma boa leitura.